Monday, November 05, 2007

Amilcar Cabral e Lenin

De ponto de vista teórico, a simpatia de Cabral para com o Lenine (como grande número de líderes anti-colonial) encontra-se n’ O Imperialismo, fase superior de capitalismo. Aí Lenine mostrou que, desde a segunda metade do século XIX, o movimento das potências europeias em relação aos continentes não-europeus (particularmente a África) não subordinava aos princípios humanitários e morais, como se propagava (“white man’s burden”, “la mission civilisatrice”, a “missão civilizadora”) mas antes aos mecanismos inerentes à expansão do capitalismo. Como tal, o colonialismo foi baseado, sustentado e alimentado pela ganância económica (a grande ilustraçao aqui é o livro King Leopold’s Ghost de Adam Hochschid). Por outras palavras, tinha-se por objectivo fundamental a expansão contínua do capital europeu. Tal expansão do capital significou claramente a exploração e o controlo físico e cultural do colonizado ( “colonização do corpo e da consciência”). Ninguén que tenha lido seriamente O Imperialismo duvida da contribuição teórica deste livro ao entendimento da expansão colonial.

Expostas as circunstâncias temporais, espera-se, agora, através de uma deconstrução radical dos argumentos elaborados por de Pina, trazer à baila o verdadeiro Amílcar Cabral, um teórico (e não só!) de referência obrigatória da história contemporânea africana. Para tal, este artigo é estructurado em pontos e contra-pontos. Assim, demonstrar-se-a que Amílcar Cabral não foi e nem deve ser intepretado como um cego seguidor ideológico de V.I. Lenine. Muito pelo contrário, quem estuda(ou) Cabral a sério sabe da contribuição teórica trazido por ele não só para o pensamento político terceiro-mundista e africano como também para o próprio pensamento pós-colonial. Ideias e conceitos por ele desenvolvido ainda hoje é motivo de grandes debate acadêmicos e fazem parte do currículo em qualquer faculdade de ciencias sociais que se preze. Uma simples pesquisa no “google” (www.google.com) revela tal facto. Duvido que uma personalidade que não tenha sido original, ou simplesmente um fraude intelectual, possa ocupar o tempo de debates nas salas de aulas à nivel global (isso mostra claramente que Cabral faz parte do património intelectual mundial ). Claro que se limitar a Portugal e Cabo Verde, infelizmente verá que Cabral não é reconhecido como deveria. Desconfio que tal fenómeno deve-se a um certo complexo psíco-intelectual. Mas isso é de fácil compreensão dado o atraso no estudo da ciência política , história e estudos africanos de uma forma genérica nos dois países).

Mas, no final, acabo por entender o de Pina. Infelizmente, em Cabo Verde, Amílcar Cabral foi apagado da memória política colectiva. Ou melhor, foi morto repitadamente. Infelizmente não sao “os três tiros da PIDE,” mas antes a redifinição corrupta de valores e normas a seguir. O consumerismo, a “boa vida” (não no sentido apresentado por Aristóteles em A Política ) e a generalizada “pornograficação da sociedade caboverdiana” (fazendo uso do conceito de“sociedade pornográfica,” desenvolvido por de Pina) constituem hoje valores buscados por todos – principalmente pela classe política. Quem atento é pode constatar a existência de uma “politique du ventre” (Bayart) que se ve claramente visto, com a permissão de Camoes, na corpulencia deselegante dos nossos politicos, adquirida uma vez no poder.

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