Saturday, November 24, 2007

Carta de Despedida del Che

Carta de despedida del Che a Fidel

"Año de la Agricultura"
Habana


Fidel:



Me recuerdo en esta hora de muchas cosas, de cuando te conocí en casa de María Antonia, de cuando me propusiste venir, de toda la tensión de los preparativos.

Un día pasaron preguntando a quién se debía avisar en caso de muerte y la posibilidad real del hecho nos golpeó a todos. Después supimos que era cierto, que en una revolución se triunfa o se muere (si es verdadera). Muchos compañeros quedaron a lo largo del camino hacia la victoria.
Hoy todo tiene un tono menos dramático porque somos más maduros, pero el hecho se repite. Siento que he cumplido la parte de mi deber que me ataba a la Revolución cubana en su territorio y me despido de ti, de los compañeros, de tu pueblo que ya es mío.
Hago formal renuncia de mis cargos en la Direccón del Partido, de mi puesto de Ministro, de mi grado de Comandante, de mi condición de cubano. Nada legal me ata a Cuba, sólo lazos de otra clase que no se pueden romper como los nombramientos.
Haciendo un recuento de mi vida pasada creo haber trabajado con suficiente honradez y dedicación para consolidar el triunfo revolucionario.
Mi única falta de alguna gravedad es no haber confiado más en ti desde los primeros momentos de la Sierra Maestra y no haber comprendido con suficiente celeridad tus cualidades de conductor y de revolucionario.
He vivido días magníficos y sentí a tu lado el orgullo de pertenecer a nuestro pueblo en los días luminosos y tristes de la Crisis del Caribe.
Pocas veces brilló más alto un estadista que en esos días, me enorgullezco también de haberte seguido sin vacilaciones, identificado con tu manera de pensar y de ver y apreciar los peligros y los principios.
Otras tierras del mundo reclaman el concurso de mis modestos esfuerzos. Yo puedo hacer lo que te está negado por tu responsabilidad al frente de Cuba y llegó la hora de separarnos.
Sépase que lo hago con una mezcla de alegría y dolor, aquí dejo lo más puro de mis esperanzas de constructor y lo más querido entre mis seres queridos... y dejo un pueblo que me admitió como un hijo; eso lacera una parte de mi espíritu. En los nuevos campos de batalla llevaré la fe que me inculcaste, el espíritu revolucionario de mi pueblo, la sensación de cumplir con el más sagrado de los deberes; luchar contra el imperialismo dondequiera que esté; esto reconforta y cura con creces cualquier desgarradura.
Digo una vez más que libero a Cuba de cualquier responsabilidad, salvo la que emane de su ejemplo. Que si me llega la hora definitiva bajo otros cielos, mi último pensamiento será para este pueblo y especialmente para ti. Que te doy las gracias por tus enseñanzas y tu ejemplo al que trataré de ser fiel hasta las últimas consecuencias de mis actos. Que he estado identificado siempre con la política exterior de nuestra Revolución y lo sigo estando. Que en dondequiera que me pare sentiré la responsabilidad de ser revolucionario cubano, y como tal actuaré. Que no dejo a mis hijos y mi mujer nada material y no me apena: me alegra que así sea. Que no pido nada para ellos pues el Estado les dará lo suficiente para vivir y educarse.
Tendría muchas cosas que decirte a ti y a nuestro pueblo, pero siento que son innecesarias, las palabras no pueden expresar lo que yo quisiera, y no vale la pena emborronar cuartillas.

Hasta la victoria siempre, ¡Patria o Muerte!
Te abraza con todo fervor revolucionario,

Sabura CV


Keli e konjuntu di nha primon - Vava, aka Kapitcha (primeru di lado eskerdu, ku viola na mo). Kampion maltas. Boa Sorti sempri i manti sempre "Sabura CV"

Thursday, November 15, 2007

Amilcar Cabral, Pluralismo Politico e Desenvolvimento Politico


O exercício da análise histórica implica, a troco de ser considerada inválida, um trabalho duro de investigacao no arquivo. A história faz-se na busca de factos históricos. Na impossibilidade de viver ou reviver o facto histórico, os dados históricos são como um prémio de consolo ao históriador. No entanto é da responsabilidade do historiador comunicar com e trazer à baila tais factos. E para tal, é preciso um sério trabalho de arquivo. Neste ponto, de Pina escreve – infelizmente, sem fazer uma consulta extensiva dos documentos emandos do PAIGC – que “não há, nos escritos de Cabral, uma única linha a favor do Estado de Direito…” Claro que este conceito, ainda que seja usado em todos os cantos no mundo de hoje, não fazia parte do vocabulário político corrente dos anos 60 e 70 – principalmente no quadro da dita África lusofona. Quem lê tal afirmação de de Pina fica com a impressão de que as ideas políticas de Cabral apareceram num só momento, e são caracterizadas por um certo dogmatismo (e logo são estáticas). Por outras palavras, fica-se com a impressão de que não houve mudancas ideológicas no pensamento de Cabral – ou do PAIGC. A conclusão lógica e bombástica: o PAIGC e o Cabral sempre defenderam o sistema de partido único. Nada que uma simples e fácil consulta aos arquivos do PAIGC não disacredita de Pina. Entendendo por “Estado de direito” como um regime que assenta no princípio da pluralidade política , no sustento de direitos fundamentais da pessoa humana, e, obviamente, a primazia do direito escrito sobre a vontade caprichosa dos governantes e burocratas, espera-se mostrar que tal foi a estratégia e o objectivo primário preconizado por Amílcar Cabral e outros membros da liderança política do PAIGC, nos primeiros anos da vida política clandestina. Datado 15 de Novembro de 1960 – o ano da “independência africana” – o “Memorandum do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde ao Governo Portugues,” fortemente influenciado pela descolonização británica e francesa, particularlmente no que refere ao principio “uma pessoa, um voto,” exigia do governo Portugues o seguinte (no seu ponto 4): “Liberdade de pensamento, liberdade política , liberdade de reunião, de associação, de formaçço de partidos políticos e de sindicatos, liberdade de imprensa, e garantias para o exercício efectivo dessas liberdades, sem descriminação de raça, de grau de cultura, de sexo, de idade e de condições de fortuna.” Facilmente pode-se constatar que houve uma altura liberalista no pensamento de Cabral, ao contrário do que muitos pensam.

É claro que tal projecto liberalista nunca foi levado à frente, por intransigência e teimosia do governo portugues, corrupto e caduco, liderado por um ultraconservador, que teimava em querer parar a história da libertacao nacional – claro que referrimos ao Salazar, personalidade que ainda este ano foi eleito como o mais famoso dos portugueses de todos os tempos, ainda que este tenha tramado a vida de muitos portugueses (vá la entender os lusitanos!). Ainda por estas alturas (finais dos anos cinquenta e princípios dos anos sessenta) acreditava-se que se poderia conseguir uma descolonização negociada, tal como os franceses e británicos tinham feito – depois, obviamente, de forte pressões nacionalistas dos africanos. Pelo contrário, o regime de Salazar reforcou o contigente armado nas colónias. Os acontencimentos em Angola de 4 de Fevereiro de 1961, levaram Salazar e os “ultracolonialistas” (Anderson) portugueses, em grandes desfiles típicos dos regimes fascistas, a declararem “Angola [e por conseguinte a África dita portuguesa] é nossa,” querendo com isso monstrar que meios não seriam observados na manutenção do status quo colonial. Perante tal situação, a luta armada foi a única solução, e resultou na independência das ilhas de Cabo Verde e de Guiné Bissau. É no quadro da luta armada que poderemos observar a mudança ideológica do Cabral e do PAIGC. O pluralismo político deixa, por razoes prácticas, de ser um princípio fundamental, e é substituido pelo principio da unidade (daí o slogan “unidade e luta”). Contra a tendência de divide et impera, estratégia generalizada do colonialismo na África, a unidade sob o PAIGC foi preconizada por Cabral – e isso explica as suas maquinações diplomáticas, muitas vezes sem sucesso, no sentido de atrair personalidades de outras formações políticas tais como o Leitão da Graca, o Pinto Bull, entre outros. A negação do pluralismo politico durante a luta da libertação nacional, como foi demonstrando, assenta no princípio da formação e manutenção de uma “frente unida” contra o colonialismo. Seria difícil travar uma guerra armada de libertação nacional se a força patriótica tivesse dividida em dois ou mais facções armadas. Tudo seria – incluindo o que na terminologia política actual designa-se de guerra de “warlords” – mas nunca uma guerra de libertação nacional . Aqui, o grande exemplo é o caso de Angola, onde o colonialismo português soube tirar proveito das discórdias entre as várias facções nacionalistas, nomeadamente entre a UNITA e o MPLA, na chamada “Operacao Madeira” dos inícios dos anos 70. E mesmo quando a teoria de centralismo democrático passour a ser um dos pilares da filosofia e praxis cabraliana, as preocupações de Cabral foram sempre de manter a ordem, a unidade e o respeito da pluralidade – ainda que dentro de uma estructura monolítica. Pode-se constar aqui um certo utopismo de Cabral, ao aceitar que fosse possivel manter pluralidade democrática dentro de uma estrucutura monolítica. Mas Cabral, como homem que foi, tambem “sonhou.” E sonhou que fosse possível “desenvolver o espírito de crítica” no seio de um partido único. Neste aspecto, ele sublinhou que “criticar é e deve ser o acto de exprimir uma opiniao franca, aberta, diante dos interessados, com base nos factos e com espirito de justica, para apreciar essa accao.” Até hoje não li uma definição da crítica política que seja tão forte e tão directo ao ponto do que esta proposta por Cabral. E tal definição é coisa de ser dita sempre e em voz alta. Talvez os nossos líderes aprendam com Cabral o que é criticar. E neste ponto que se deve desenvolver possíveis criticas ao pensamento de Cabral – um utopismo humanista, quando o homem político e mais um homini lupus.

Um outro grande utopismo que caracterizou Cabral foi a esperança que ele manteve de que se pode evitar a formação daquilo que Milovan Djillas, na sua análise do partido comunista jugoslavo nos anos 50, chamou de “nova classe.” Cabral expressou que era preciso “combater o espírito de grupos e de grupinhos, os círculos fechados, a mania do segredo entre algumas pessoas, as questões pessoais e a ambição do mando.” O que verificamos, infelizmente, é que o sistema de partido único, no periodo pós-colonial, implicou necessariamente aquele Robert Michael tinha designada de “lei de ferro da oligarquia,” isto é, a tendência da liderança política em converter numa oligarquia, preocupando apenas com a satisfação egoista dos seus interesses – e menos com os do povo. No entanto, nem mesmo a transição para o pluralismo poltico parece ter apagado esta tendência oligárquica. Formalmente designada uma democracia, uma grande parte da população caboverdiana não toma parte nenhuma no processo de tomada de decisões de políticas públicas. Pode-se falar de democracia sem participação no processo de tomada de decisõões que dizem respeito a toda comunidade política ? Só se entender a democracia no sentido elitista, tal como exposto por Joseph Schumpeter: competição dos membros da elite aos votos do povo.

Realismo Politico e Guerra de Libertacao Nacional


Numa outra parte do seu artigo, de Pina deduze que “Cabral defendeu a pena de morte” e por conseguinte não poderia ter sido “afável e profundo” (como caracterizado por Corsino Tolentino, que eu partilho). Primeiro, afirmação de de Pina deixa o leitor sem saber como e porque é que houve os fuzilamentos (que, por acaso, não foram sumários) no pós-Congresso de Cassaca. Houve, de facto fuzilamentos, mas de líderes guerrilheiros que recusaram categoricamente a subordinação à direcção política do PAIGC. Em 1964 o PAIGC corria sérios perigos de desgate politico, por causa daquilo que Cabral designou de “militarismos,” isto é, líderes da guerrilha que utililzavam seu status, poder e violência contra populaçào em proveito próprio, minando, obviamente, a mobilização e o apoio das populações. O principio fundamental em causa aqui é o de o militar deve estar sempre subornado ao politico – curiosamente este principio e absolutamente aceitado por qualquer estado de direito. E quanto a sumariedade de fuzilamentos, parte do Congresso de Cassaca foi reservado a um tribunal, onde os acusados tiveram o direito de resposta (o princípio de audi alteram partem). E nem todos os acusados foram fuziladas, importa salientar (sobre este acontecimento, vide o livro Amílcar Cabral, de Patrick Chabal). Aqueles que resistiram o comando político, tentando sobrepor-se à força das armas, estes sim foram liquidados. O realismo político da guerra implica isso. Se o dito fuzilamento de aqueles que minavam a autoridade política não tivesse acontecido enviaria uma mensagem totalmente errada aos demais membros da guerrilha como também à própria população, o alicerce do esforço de guerra da libertação nacional. Isto porque a indisciplina, a insubordinação e o motim, deixadas por punir, provocam erosão psicológica e política a qualquer estrutura político-militar em tempo de guerra. A título de exemplo, não é por acaso que o Código Unficado de Justiça Militar das forças armadas americanas – ou de qualquer aparelho militar moderno – reserva a pena de morte como instrumento de manter a disciplina e a hieararquia.

Por outro lado, quem leu Cabral e a história dele e da libertacao nacional sabe que ele sempre acreditou na boa vontade e honestia da pessoa humana – o que, ironicamente, iria lhe custar a própria vida. Assim, a titulo de “informação gratis” foi o próprio Cabral que “reabilitou” Inocêncio Cani, depois deste ter sido afastado da direcção do PAIGC, em 1971, por crimes de corrupção, possibilitando assim, anos mais tarde, que tenha a oportunidade de o matar (vide, por exemplo, Quem Mandou Matar Amílcar Cabral? de José Pedro Castanheira, pp.118). Ao mesmo tempo, duvido que quem escreve que “devemos combater o oportunismo, a tolerância diante dos erros, as desculpas sem fundamento, […] e a mania de que um ou outro responsável é insubstituível no seu posto” (qualidades, importa salientar, que a grande parte da moderna classe política caboverdiana, tanto no governo como na oposição, simplesmente não observam) não possa ser qualificado de “afável e de profundo pensar.” Tanto mais que dos escritos de Cabral podemos sempre extrair licções que possam conduzir a vida política no presente. Assim sendo, é de ponderar no seguinte escrito de Cabral: “o poder vem do povo, da maioria, e ninguém deve ter medo de perder o poder. O dirigente deve ser o interprete fiel da vontade e das aspiraões da maioria (…)”

Amilcar Cabral e Paulo Freire: Quem Influenciou Quem?


Para quem é “preocupado com a verdade, a objectividade dos factos,” de Pin, como foi dito antes, ou foi bastante tendencioso ou então a sua pesquisa histórica foi fraca. De Pina afirma que “‘a pedagodia’ de Cabral era no fundo a ‘pedagogía’ do famoso Paulo Freire.” Infelizmente para de Pina é o proprio Paulo Freire que o desacredita quando fala que “quanto mais estudamos a obra teórica de Amílcar Cabral, mais realizamos que temos que voltar mais e mais as obras dele.” Num outro lugar, entrevistado por um conterrâneo nosso, professor Donaldo Macedo, da Universidade de Massachusetts Boston, Freire diz o seguinte: “Amicar Cabral was a thinker who put his thought into practice. He was a thinker whom I read over and over again and always get new perspectives from.” (Literacy: Reading the Word and the World, pp. 103). Na mesma entrevista fica o leitor a saber que Freire pretendia exactamente escrever um livro (cujo o titulo seria “Amílcar Cabral: a Pedagogia da Revolução”) sobre a pedagogia inaugurada por Cabral entre os maquis no interior da Guine Bissau e na Escola Piloto do PAIGC. Infelizmente para nós, tal livro ficou por ser escrito. Creio, assim, que a relação de influência foi no sentido contrário ao proposto por de Pina.

Mais ainda, é o próprio filho de Paulo Freire que afirma que Amílcar Cabral “foi um grande líder intelectual Áfricano, de Guiné Bissau, por cujos textos meu pai se apaixonou imediatamente. [Cartas a Guine Bissau, o livro escrito sobre Paulo Freire na sua relação com a pedagogia em processo na Guiné-Bissau no pós-colonial] revela o período em que meu pai trabalhou na África, convidado por governos que tinham acabado de conquistar a independência de Portugal. Ao ler [A Arma da Teoria de], Amílcar Cabral ele teve um insight fantástico: era a visão de mundo de um líder excluído pelo resto do mundo, maravilhoso e muito inteligente.” http://novaescola.abril.com.br/especiais/paulo_freire/paulo_freire2.htm)

A originalidade da Teoria de Suicidio de Classe de Cabral

No artigo anterior, mostrei que Cabral não foi – e nunca deve ser considerado – como “fotocópia de Lenine.” Voltando a peça de de Pina (“Tell me no Lies”), ainda que recheada de uma prosa lírica, caracteriza-se, infelizmente, por falhas em termos de dados históricos. De Pina considera que “a própria formula ‘suicídio da pequena burguesia’ (de resto, uma idea absurda, porque a tendência da burguesia é, por definição, buscar mais riqueza) … tem uma origem marcadamente soviética.” Ve-se que existe um certo desentendimento teórico, já que se confunde alhos com bugalhos, como diz o lusitano. Primeiro, assim como o lumpen-proletariado não é sinónimo do proletariado, a pequena burguesia (e aqui, entendo bem que estou essencializando a definição da “pequena burguesia”) não é e nem deve ser entendida por burguesia. A qualificadora “pequena” é mais do que um simples adjectivo. Tal palavra não qualifica a burguesia, mas, pelo contrário, serve para demarcar uma classe totalmente distinta. O que distingue entre estas duas classe é a posicao relativa aos meios de produção. No quadro da sociedade colonial de Cabo Verde e da Guiné-Bissau (e de resto da África colonial), não existia uma burguesia nacional, detentora do capital físico e financeiro. Existia, antes, uma classe de pequena burguesia, devidamente analisado por Cabral em “Breve Análise.” Esta classe é inerentemente esquizofrénica já que ambula no manequeismo do mundo colonial. Na análise proposta por Franz Fanon ou mesmo por Albert Memmi, a pequena burguesia caracteriza-se por um complexo de superioridade em relação ao “nativo” e as massas, e, ao mesmo tempo, sente-se inferior em relacao ao “colono.” Cabral, no entanto, reconheceu a falta de homogeneidade sócio-política desta dita classe. Pelo contrário, no seio desta classe, poderia constatar-se uma secção reaccionária, pró-colonial, uma grande secção apolítica, , e uma outra secção revolucionária. É em relação à esta última secção que Cabral considerou o “suicídio de classe” como conditio sine qua non para a formação daquilo que designa “nação-classe,” isto e, a formação de uma frente unida entre a pequena burguesia e as massas no combate arduo e difícil contra o colonialismo. Sendo a sub-cultura da pequena burguesa caracterizada pelo egoismo, individualismo exorbitante, “conspicuous consumption,” e arrogancia, existe uma necessidade política de tal classe suicidar-se através de um processo de “regresso às origens” e a identificação com os objectivos e desejos da população subjugada. Como tal, “suicídio de classe” implica a identificação com a cultura local – e subsequentemente a rejeição parcial da cultura colonial. Isto significaria um certo “amor à camisola”, pois, dentro do sistema colonial, conformismo da pequana burguesia foi sempre tido como um meio de atingir um certo status social e um nível de vida acima de outros nacionais. Amilcar Cabral, em si mesmo, personaliza a própria teoria de suicídio de classe. Numa sociedade colonial estreitamente estratificada e hierárquica, Cabral poderia simplesmente optar por uma vida conformista. A formação académica garantiria-lhe conforto, estabilidade sócio-económica e mesmo uma vida de sucessos. Mas ele optou pelo caminho da “negação” (no sentido proposto por Agostinho Neto) e a rejeição de uma vida simples e tranquila na cidade colonial em troca de uma vida de teórico e practicante da libertação.

É de referir também que tão soviética é a teoria de suicídio de classes que quando foi apresentado pela primeira vez em Havana em Janeiro de 1966, na Conferência Tricontinenal dos Povos de África, Asia e America Latina, mereceu o destaque da dita conferência e a admiração de Fidel Castro, permitindo o estabelicemento de relacões diplomáticas entre o PAIGC e a Cuba, do qual a primeira beneficiou grandemente.

Carla Bruni - l'Amour

Monday, November 12, 2007

Sem bo mas ku bo

Di longi, mas bu sta pertu
Ton pertu ki ate ta ofuskan
Ofuskan nha propri koraji
Koraji di abri pan flou ton importanti bu e

Ton importanti ki importansia e sem valor
Sem valor kuanda komparadu ku bo
I sem bo, "mi n ka nada"
Enton nha existensia sta na bo

Monday, November 05, 2007

As Verdades e as Deturpações Históricas: O Presentismo de Alguns


Já foi reconhecido por alguns escritores da tendência do homem acreditar sempre que a sua geração é sempre o apogeu do desenvolvimento cultural. Tal “presentismo,” caracterizado por um essencialismo temporal ao qual o que é de hoje supera o passado, muitas vezes atrapalha o verdadeiro entendimento do processo histórico e, ipso facto, obsfuca a própria compreensão do presente. A história é, e deve ser entendida, em função do tempo dos factos – relativismo temporal – e nunca em função de anacronismos baratos. De modo a evitar tais arrogantes erros de observar o passado através das lentes microscópicas “presentistas,” é preciso ter em mente que o “homen é filho do seu tempo,” ainda que alguns têem capacidades “avangardistas” e conseguem introduzir pensares e acções não fácilmente compreendidas por seus coevos.

É deste “presentismo” que Casimiro de Pina, num artigo recentemente publicado no jornal Expresso das Ilhas (“Tell me No Lies”), faz uso para criticar, falaciosamente diga-se de passagem, a obra do fundador das nacionalidades caboverdiana e guineense, Amílcar Lopes Cabral. Este artigo é dividido entre três partes. Na primeira parte, mostro que, contrário do que de Pina acredita, existe uma diferença abismal entre Amílcar Cabral e V.I. Lenine (ou a escola marxista de uma forma genérica). Depois, na segunda parte, corrigo alguns dados historicos fundamentais que, a meu ver, ou foram simplesmente neglegenciados ou a busca de arquivo não foi assim tão extensiva. Finalmente, na última parte deste artigo, faço uma análise entre Amílcar Cabral, a história e moderna crise de participação política em Cabo Verde. Que se começe com o primeiro ponto.

Foi mencionado acima o conceito de “presentismo.” O que interessa para este artigo é o que se pode designar de presentismo pós-Guerra Fria. Sabe-se hoje que o sovietismo foi um fracasso total: a economia soviética não passava de uma “aldeia Potemkin,” aparentando-se forte mas sendo de facto um gigante com pés de barro. Do lado da política, sabe-se hoje da verdadeira “securocracia,” sustentada por um “arquipelago de Gulag” (Solzhenitsyin), que controlova os países para além da “cortina de ferro.” Mas esquece-se que tais informações nunca foram assim tão disponíveis. As informações sobre a Rússia communista, durante o período da Guerra Fria, vinham sempre de uma forma propangadista: positiva (quando vinda da Rússia) e negativa (quando provinha do ocidente). Mas de resto, a realidade sócio-política era desconhecida por estrangeiros – ou mesmo da propria população, por causa do extremo controlo das mídias. Nem mesmo os sovietólogos ocidentais, acadêmicos extremamente atentos ao desenvolvimento de fenómenos sócio-políticos na Rússia, sabiam,de facto,o que passava na Rússia comunista – daí que foi uma surpresa geral a queda do regime entre 1989-1991. Isto para mostrar que, não dispondo de imagens reais do que se tratava o comunismo soviético, a tentação de qualquer nacionalista do terceiro mundo nos anos 60 e 70 é de admirar a URSS e os seus líderes. A admiração por Lenine (ou pela USSR) foi um sentimento típico de grande número de líderes da “geografia da fome” (isto é, o então chamado “Terceiro Mundo”) e Cabral apenas segui o zeitgeist. Isso, acho ser de fácil explicação: em menos de duas gerações, a Rússia passou de uma sociedade típicamente campesina e aristócrata a uma superpotêntia global. É neste sentido que se deve compreender a relativa simpatia que Cabral nutria por Lenine e pela antiga URSS (para além do facto desta potência ter facilitado ajuda logística, armamentistica e diplomática à causa nacionalista – claro que a URSS tinha lá os seus motivos que iam mais na direcção de um realpolitik do que simples idealismo internacionalista). Pode-se então argumentar que existia, isso sim, uma admiração instrumentalista por Lenine, isto é, como forma de guarantir o apoio material e diplomático de Kremlin (e não uma admiração cega como o artigo de Pina assume).

Amilcar Cabral e Lenin

De ponto de vista teórico, a simpatia de Cabral para com o Lenine (como grande número de líderes anti-colonial) encontra-se n’ O Imperialismo, fase superior de capitalismo. Aí Lenine mostrou que, desde a segunda metade do século XIX, o movimento das potências europeias em relação aos continentes não-europeus (particularmente a África) não subordinava aos princípios humanitários e morais, como se propagava (“white man’s burden”, “la mission civilisatrice”, a “missão civilizadora”) mas antes aos mecanismos inerentes à expansão do capitalismo. Como tal, o colonialismo foi baseado, sustentado e alimentado pela ganância económica (a grande ilustraçao aqui é o livro King Leopold’s Ghost de Adam Hochschid). Por outras palavras, tinha-se por objectivo fundamental a expansão contínua do capital europeu. Tal expansão do capital significou claramente a exploração e o controlo físico e cultural do colonizado ( “colonização do corpo e da consciência”). Ninguén que tenha lido seriamente O Imperialismo duvida da contribuição teórica deste livro ao entendimento da expansão colonial.

Expostas as circunstâncias temporais, espera-se, agora, através de uma deconstrução radical dos argumentos elaborados por de Pina, trazer à baila o verdadeiro Amílcar Cabral, um teórico (e não só!) de referência obrigatória da história contemporânea africana. Para tal, este artigo é estructurado em pontos e contra-pontos. Assim, demonstrar-se-a que Amílcar Cabral não foi e nem deve ser intepretado como um cego seguidor ideológico de V.I. Lenine. Muito pelo contrário, quem estuda(ou) Cabral a sério sabe da contribuição teórica trazido por ele não só para o pensamento político terceiro-mundista e africano como também para o próprio pensamento pós-colonial. Ideias e conceitos por ele desenvolvido ainda hoje é motivo de grandes debate acadêmicos e fazem parte do currículo em qualquer faculdade de ciencias sociais que se preze. Uma simples pesquisa no “google” (www.google.com) revela tal facto. Duvido que uma personalidade que não tenha sido original, ou simplesmente um fraude intelectual, possa ocupar o tempo de debates nas salas de aulas à nivel global (isso mostra claramente que Cabral faz parte do património intelectual mundial ). Claro que se limitar a Portugal e Cabo Verde, infelizmente verá que Cabral não é reconhecido como deveria. Desconfio que tal fenómeno deve-se a um certo complexo psíco-intelectual. Mas isso é de fácil compreensão dado o atraso no estudo da ciência política , história e estudos africanos de uma forma genérica nos dois países).

Mas, no final, acabo por entender o de Pina. Infelizmente, em Cabo Verde, Amílcar Cabral foi apagado da memória política colectiva. Ou melhor, foi morto repitadamente. Infelizmente não sao “os três tiros da PIDE,” mas antes a redifinição corrupta de valores e normas a seguir. O consumerismo, a “boa vida” (não no sentido apresentado por Aristóteles em A Política ) e a generalizada “pornograficação da sociedade caboverdiana” (fazendo uso do conceito de“sociedade pornográfica,” desenvolvido por de Pina) constituem hoje valores buscados por todos – principalmente pela classe política. Quem atento é pode constatar a existência de uma “politique du ventre” (Bayart) que se ve claramente visto, com a permissão de Camoes, na corpulencia deselegante dos nossos politicos, adquirida uma vez no poder.

Cabral e Lenine: Diferencas Cruciais


Dito isto, voltemos ao artigo de de Pina. Ali é considerado (e cito) que “o pensamento de Amílcar é, practicamente, uma fotocópia das teses de Lenine.” A primeira interpretacao a fazer aqui, ainda que não explicitamente indicado por de Pina, é que Cabral foi um intelectual fajuto, um fraude, que não passava mais do que um “xeroz”, onde os textos produzidos por Lenine eram simplesmente convertidos em teoria cabraliana, sem originalidade nenhuma. Expostas de uma maneira diferente, a lógica mantida por de Pina é seguinte: Cabral, fotocópia de Lenine, e, ipso facto, um marxista-leninista, e como tal, as suas ideas foram directamente importadas da escola de Moscoso, através das Obras Completas de Marx, Engels e Lenine. A primeira questão a ser levantada é: “o que é ser um marxista-leninista?” É aquele que simplesmente se declara como tal, ou aquele que faz uso da terminologia típica desta escola de pensamento, ou aquele que faz uso da metodologia materialista? Demonstrando que Amílcar Cabral nunca foi um marxista é um bom caminho para mostrar que Cabral não é fotocópia de Lenine.

Primeiro, Cabral, em tempo nenhum, afirmou sendo um marxista. Tendo sido um homem de extrema coragem, transparência política e frontalidade (ou simplesmente “sem papas na língua”), teria declarado como um marxista caso o fosse. Não duvido que quem tenha afirmado apoiar as forças do Viet-Cong perante o Congresso norte-americano (mais concretamente perante The House Committee on Foreign Affairs, liderado pelo congressista Charles Diggs) no auge da guerra de Vietname, tenha receios de mostrar a sua identificação ideológica. Cabral, caso fosse um marxista, o teria afirmado. Pelo contrário, Cabral, como grande intelectual que foi, sempre rejectou reducionismos ideológicos, isto é, simples actos de impor rótulos a personagens e grupos históricos. Se há que impor rótulos, pode-se, com Cabral, identificar-lo como um nacionalista lutando pela libertação do seu povo.

Segundo, o uso de terminologia marxista, contrário do que alguns arguem falaciosamente, não implica total e cega aceitação do credo marxista. Assim como fazer uso do vocabulário da democracia política (como muitos fazem nas nossas ilhas) não faz ninguém um democrata, tão pouco o uso da metodologia e terminologia marxitas fazem de alguém um marxista. Por outras palavras, falar de “estado de directo,” “democracia”, “libertades individuais,” entre outras palavra-chaves que passaram a ser “kontu nobu” (como diz o badiu) no pós-Guerra Fria, não o faz ninguém um democrata. Um marxista não só usa a teoria como aposta as suas acções em direcção a um objectivo final, preconizado pela intelligentsia ou pela literatura daquela escola. Cabral, de facto, fez uso da terminologia marxista. Quem o leu sabe que sim. Ele fala “relações de produção,” de “modo de produção”, entre outros codinomes da escola marxista. Mas ao mesmo tempo ele escreve conceitos que contradizem o marxismo. Os escritos dele revelam conceitos como a “nação”, “nacionalismo”, “pan-africanismo,” e mesmo da “cultura,” conceitos que, oriundos da escola liberal, minam o o internacionalismo marxista ou a própria teoria de “falsa consciencia” (a cultura como sendo valores e ideas inculcados nas massas pela classe dominante de modo a perpetuar a sua posição hegemónica). Mas nem o uso destes conceitos faz de Cabral um liberal. Ele foi sim um grande e “um simples [nacionalista] africano.” É dentro destes parâmetros é que se que se deve criticar Cabral.

Terceiro, existe um abismo teórico e práctico entre Amílcar Cabral e V. I. Lenine. Desbruçar sobre cada aspecto dessa diferença abismal equivale escrever uma “dissertatio,” missão impossível aqui – falta de espaço. No entanto, como “food for thoughts,” é de considerar as seguintes questões: 1) de ponto de vista teórico, qual é a classe motora da revolução em Lenine e em Cabral? A mesma classe? 2) Como a história é construida em Cabral e em Lenine? Da mesma forma? 3) Qual é a função do “lumpen-proletariado” no processo da revolução sócio-política em Cabral e Lenine? 4) E do campesinato? 5) E o papel da pequena burguesia? 6) Qual é a diferença entre “suicídio de classe” e a dita “dictadura de proletariado,” tese central do Leninismo? 7) E sobre a estratégia e táctica da guerra revolucionária? Acreditando que Cabral é copia de Lenine implicaria que as respostas, àquelas questões, seriam as mesmas em Cabral e em Lenine. Infelizmente tal não e o caso.

Ainda é importante lembrar que a teoria de Lenine constitui, em si mesmo, uma metateoria, querendo e visando impor-se em qualquer situação histórica humana, sem referência alguma aos particularismos e condicionalismos locais. Hoc opus hic labor est. A filosofia política cabraliana rejeita categoricamente tais imperialismos ideológicos. O local subrepõe o global, e só uma análise microcosmica pode permitir não só a busca da origem dos problemas políticos e económicos como também de subsequentes soluções. O fulcro do pensamento cabraliano assenta no conceito de “realidades concretas.” E quem aposta nisto rejeita o dogmatismo ideológico em favor da flexibilidade, de maneira que a teoria e a práctica possam sempre andar de mãos dadas (em vez de um abismo entre eles). Cabral rejeitou categoricamente a importação e adaptação de ideológias estrangeiras, ainda que tais ideologias pareciam funcionar nos outros países. Pelo contrario, a análise das realidades concretas ditou a acção revolucionária do PAIGC sob Cabral. E isto vem de uma longa tradição, talvez por causa da sua profissão como engenheiro agrónomo que permitiu Cabral manter sempre em contacto com a realidade, com a verdadeira situação das massas – em particular do campesinato (nisto vide os levantamentos agronómicos da Guine dita portuguesa nos anos 50). Para sublinhar a importância da dita realidade concreta, Cabral escreveu que “eu posso ter a minha opinião sobre vários assuntos, sobre a forma de organizar a luta, de organizar um Partido, opnião que aprendi, por exemplo, na Europa, na Ásia, até mesmo talvez noutros paises de Africa, nos livros, em documentos que li, com alguém que me influenciou. Mas não posso pretender organizar um partido, organizar uma luta de acordo com aquilo que tenho na cabeça. Tem que ser de acordo com a realidade concreta da terra.” Um outro líder qualquer seguiria o caminho mais fácil que é exactamente o de copiar o modelo produzido por outros. Aqui pode-se distinguir entre a excepcionalidade e a vulgaridade de liderança. Cabral foi excepcional exactamente por optou por o caminho da originalidade, o caminho de muito e árduo trabalho.

Quanto a falta de originalidade teórica de Cabral, faço uso das palavras de Mustafah Dhada, acadêmico que estudou profundamente a história da luta armada na Guiné-Bissau. Assim, Mustafah considera que Cabral “was no ideological simpleton. Nor was he empty inside, and thus prone to regurgitate thoughts borrowed but not fully integrated within. He was not a prisioner of an instable, unoriginal internal frame of mind, restlessly moving from one set of fleeting ideas to another” (Warriors at Work, pp. 56). Poderia aqui citar mais acadêmicos, que estudaram atentamente a vida e obra de Cabral. Mas quem leu Cabral seriamente, ainda que não concorde com as ideais que ele promoveu, sabe que “copiador” ele não foi.

A questão de hoje


Cada dia, eu, como qualquer outro ser humano, tenho uma pergunta, embora não tão nova, que me persegue. Hoje acordei pensando no dilema do cientista social, nomeadamente, a questão de ser objectivo quanto possível vs. empenhamento social do cientista social – o que, claramente, rejeita categoricamente, todo o preceito de objectividade e imparcialidade. Entre a objectividade passiva, fria e morta, prefiro a actividade activa, viva do "social engagement."