Nos últimos quinze anos, a questão da identidade nacional parece ocupar o centro de debates entre os caboverdianos. Tal debate foi ainda mais activada quando duas figuras da vida política Portuguesa (Adriano Moreira e Mário Soares) afirmaram sobre a não-Africanidade da identidade caboverdeana. Mais ainda, recentemente a União Europeia concedeu às ilhas de Cabo Verde estatuto de parceiro especial. Para certas camadas caboverdianas tal prova o reconhecimento europeu da europacidade caboverdeana.
O debate sobre a identidade centra geralmente em relação ao posicionamento cultural, político e até mesmo económico de Cabo Verde à África. Verifica-se, assim, um duplo posicionamento: não-pertença e pertença à Africa.
No que respeita o primeira ideologia identitária (não-pertença à África), é de notar que tal tem uma longa história, cujo o apogeu discursivo foi alcançado com os escritos dos dittos “Claridosos”, em particular, com o claridoso par excellence, Baltazar Lopes da Silva. Para certos grupos de indivíduos, Cabo Verde não é África e ponto final. Poderia ter sido num passado distante, mas já não é mais. Este argumento desdobra ainda em dois substractos: a) a não-Africanidade Caboverdeana é demonstrada pela condição cultural occidental dos caboverdeanos; b) Cabo Verde tem uma identidade única, singular e liberto de qualquer unidade cultural/civilizacional supranacional – em outras palavras, a identidade caboverdeana nem é Europeia e nem é Africana.
Para um outro grupo de caboverdeanos, a herança cultural africana ainda é marcante e vigente nas ilhas de Cabo Verde, ao contrário daquilo que se pensa. Ainda que certos pré-Claridosos, particularmente Pedro Cardoso, afirmar aqui e acolá, a Africanidade cultural dos caboverdeanos, a verdade é que o projecto Africanista é seriamente assumida pela “geração de Amilcar Cabral.” De ponto de vista político, a pertença de Cabo Verde à Africa foi encontrada na fórmula de unidade orgânica entre Cabo Verde e Guiné Bissau. Assim sendo, esta última é o elo que une Cabo Verde a África.
No que respeita ao debate contemporâneo nas ilhas sobre a identidade das mesmas, pode-se encontrar dois tipos daquilo que designo de identidadismo, ou seja, uma ideologia de construção identitária, sustentada, às vezes, por um discurso científico. Constata-se dois tipos de identidadismo:
a. identidadismo populista, marcante na mídia virtual, que abriu um novo conceito de esfera pública, de livre troca de ideias, informações e valores. O anonimato que tal esfera permite abriu as portas à participação de qualquer pessoa. O debate nesta esfera, no entanto, é mais sentimental que científico. A título de exemplo, o debate sobre os fundamentos da identidade caboverdeana, levado à cabo pelo jornal virtual, Liberal Cabo Verde, permitiu a participação de diferentes indivíduos. Contudo, o nível de debate ficou longe de suporte científico social – ainda houve quem refugiou nas filosofias de Hegel, Aristóteles, etc, para sustentar os argumentos. No entanto, ninguem se preocupou em definir o conceito de “identidade,” “creolidade,” “creolização,” ou outros conceitos pertinentes no debate identitário. Ainda mais ninguém deu-se ao trabalho de fazer uso das ideias cientifico-sociais sobre o tema.
b. Identidadismo acadêmico, trazido à baila por uma nova geração de académicos caboverdeanos que abordam profundamente o estudo da identidade caboverdeana – como são os casos de Gabriel Fernandes, Carlos dos Anjos, António Correia e Silva, entre outros. O ponto de distinção em relação ao identidadismo populista é exactamente o uso do discurso científico social no entendimento da realidade identitária caboverdeana.
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Thursday, July 17, 2008
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